quarta-feira, dezembro 21, 2005
Jogos de sedução
Noite fria de inverno, Dezembro, dias antes do Natal. Como todos os anos, fez todas as compras de Natal com antecedência, para não ter que se incomodar com isso na azáfama dos últimos dias.
Alta, cabelos negros longos e num corte moderno, lábios vermelhos, olhos verdes e felinos, botas de salto muito alto, calça de ganga justa ao corpo, uma malha preta, corpo de virar a cabeça aos santos. Entra no shopping com andar altivo e propositadamente distante e indiferente.
O shopping está cheio como ela gosta, cheio de casais, mulheres sós, homens sós, rapazes e raparigas, crianças e idosos, andando apressados uns, devagar com olhos de sonho para as montras outros, todos com uma coisa em comum - fazer compras!
Ela não, anda devagar, com um andar intencionalmente sensual, olhando de cima, vendo as montras, entrando nas lojas que lhe agradam. Se algo lhe agradar o suficiente, compra. Tem perdição por lingerie, acessórios e sapatos. Nada como um bom conjunto de lingerie e um bom par de sapatos para a tirar do sério. Em casa, em caixas bem arrumados, estão dezenas de conjuntos de lingerie que veste de acordo com o estado de espírito. Em comum - nada de coisas simples, tudo tem que ter um toque de originalidade, de sensualidade, afinal nunca se sabe quando de repente se terá que despir...e uma boa lingerie é sempre um "must"!
E por falar em lingerie, algo na montra lhe chama a atenção, um conjunto preto e vermelho sangue, a combinação perfeita...sem hesitações entra na loja.
Andando pelo espaço da loja, vendo e apreciando, cruza-se com um casal. Ele alto e charmoso, ela alta de deselegante, quase desleixada, do tipo "casei-me, pronto, já o fisguei posso desleixar-me". Felina olha-o de alto a baixo, sem medo, sem receios, sem pudores. Pára o olhar nuns olhos cinzentos impenetráveis e misteriosos, que mostram um brilho estranho de gozo e desejo. Olha-o bem nos olhos e passa por ele quase roçando-o de tão perto.
Segue em direcção ao balcão, onde a companheira dele já lá está. Sente a sua presença atrás dela, muito, muito perto, demasiado perto para o que seria de esperar de um homem acompanhado..."enfim, mais um igual aos outros, igual a todos os que provoco e viro as costas...aos com quem troco olhares de depois faço um esgar de desprezo...agora é a minha vez de magoar, de maltratar, afinal todos sabemos que não há homens sérios e apaixonados..é tudo a mesma treta" - pensa ela.
Olha para trás e sorri...de encontro aos olhos dele. Vira-se para a empregada do balcão e pede o conjunto da montra.
- É para presente menina?
- Não é para mim mesma! Tem mais alguma coisa no género?
A empregada mostra-lhe vários conjuntos e ela fica a hesitar entre o que tinha anteriormente visto e outro bordeaux, lindo de morrer. Resignada encolhe os ombros e pede para levar o primeiro, aquele terá que ficar para uma próxima vez.
- Menina, pode embrulhar esse conjunto para presente?
Ouve incrédula a voz profunda e meio rouca dele perguntar. Olha para o lado sem querer acreditar que a mosquinha morta que ali está a seu lado a levar um conjunto tipo cueca da avó e soutien vitoriano possa alguma vez na sua monótona existência usar um conjunto sexy como o outro...sim senhora, quem diria...
Vê-o pagar e afasta-se sem olhar para trás, com um sentimento de alguma tristeza...afinal o tipo era muito bom...mas casados não...esses não dão gozo...e magoar mulheres não faz o seu estilo.
Afasta-se lentamente da loja, balançando o saco na mão, vendo as montras, olhando em volta, quando sente uma mão no seu ombro
- Menina, o meu irmão pediu que lhe entregásse isto
A mosquinha morta entrega-lhe o saco com o conjunto de lingerie e ela pasma, espreita para dentro encontrando um cartão com um número de telefone, e que dizia:
- Se realmente os meus olhos não me enganaram, espero por ti amanhã, às 11 da noite. Marca o lugar e eu estarei lá, à tua espera!
Sem querer acreditar, abana a cabeça, ri-se numa gargalhada solta e felina, despudorada e sarcástica, vira costas e deita fora o cartão....só o cartão
