domingo, janeiro 08, 2006
Encontro no cinemaEla olha-o de lado, avaliando-o de alto a baixo, percorrendo cada milímetro com os olhos.
"Definitivamente é bom todos os dias" - pensa para consigo.
Sentada numa mesa de um café, comendo um Haggen Daz, espera a hora do cinema começar. Decidiu ir hoje ao cinema, a meio da semana, sózinha como faz a maior parte das vezes quando as amigas estão sem vontade ou demasiado ocupadas a tratar da família.
Pensativa, vestida de preto a sua cor preferida, come lentamente com uma sensualidade estudada, provocante, intencional.
Olham para ela e sabe bem disso! A sua auto-confiança, o nariz empinado, o porte altivo são talvez o que lhe dá aquele toque que atrai os homens como moscas ao mel...passa por eles e parece nem os ver, não olha em volta, sente todos os olhares apreciativos, rindo sardónica para consigo mesma.
Esta noite, de repente, sentiu que alguém olhva para ela, fixamente e insistentemente. Curiosa, virou a cara e deparou com ele. Moreno, vestido de preto como ela, cabelos com o corte da moda, em crista, bem vestido, sózinho, sem aliança no dedo, bebia um café. Os olhos verde olhavam-na de alto abaixo num olhar apreciativo, que fazia bem ao ego. Olhou-o por uns instantes directamente nos olhos e virou a cabeça para o outro lado, como se não se interessasse pelo que viu.
Acabou o gelado e dirigiu-se para a sala de cinema, sentindo a presença dele atrás dela, na fila para o bilhete, na entrada para a sala. O filme era um thriller bem conseguido, mesmo ao seu gosto, daqueles que prendem a respiração e do qual não conseguimos adivinhar o final.
Duas filas atrás estava ele sentado, nas costas ela sentia o olhar dele, queimando. Acabado o filme, espera para sair e ao vê-lo pelo canto do olho trás dela deixa cair o telemóvel intencionalmente para que ele veja, e caminha segura e decidida para o carro.
Abre a porta e vira-se para ir buscar o casaco à mala do carro, quase chocando com alguém. "Deu certo, pensa consigo mesma, mais uma vez deu certo". Sorri, levanta a cabeça e depara-se com uns olhos verdes e sérios, indagantes, curiosos, instigantes
- O seu telemóvel, vi-o cair quando estava a sair do cinema e vim atrás de si!
- Muito obrigada por se ter incomodado a trazê-lo para mim, sem ele não sou nada. Obrigada mesmo, tenha uma boa noite e boa semana.
Pega no telemóvel deixando a mão na dele um pouco mais de tempo que o normal e sorrindo olhando-o nos olhos. Entra no carro e pega no telemóvel para mandar uma mensagem à amiga a combinar o almoço do dia seguinte. Ao olhar para o ecrán, deita a cabeça para trás num riso solto e aberto, numa gargalhada triunfante:
"Imensas desculpas, não consegui resistir. Sinto que se não fizesse isto me arrependeria para o resto da vida. O que pode um comum mortal como eu fazer para a conhecer melhor? " Abaixo deixou o número de telemóvel e o nome.
Liga o motor, olha para trás onde ele ainda está parado, pisca-lhe o olho pelo retrovisor, diz-lhe adeus com a mão...e com um sorriso cheio de intenções pega no telemóvel e digita o número...